“Eu nasci e fui criado na periferia de Salvador, na favela”.
É assim que Wagner Mascarenhas começa contando sua história no bairro de Coutos
(Salvador - Ba), onde não desenvolveu somente o corpo, o físico, mas os
saberes, conexão com a arte e intelectualidade.
Como todo jovem morador de favela, as dificuldades são presentes no dia a dia.
Além dos problemas familiares, tem os que chegam por herança da colonização,
pois quem mora em favela, sabe o que é
ter que ralar desde cedo, diferente de quem “nasceu em berço de ouro”,
que além de ter seu sucrilhos todos os dias, ainda tem a herança de sua geração
passada. Morador de favela não escolhe como quer/vai viver, não tem privilégios
e se referindo ao território onde vive, Wagner comenta: “Vivo em um subúrbio
ferroviário à beira-mar onde o comércio prevalece, onde tem comércio tem gente
e aqui não é diferente. Muitas vezes esquecido pelo governo e desassistido, mas
não é por isso que o povo daqui não luta e faz seu trabalho justo para
sobreviver”. Ele nos conta que desde criança gostava muito de desenhar e pintar
e mais tarde desenvolveu a vontade de escrever poemas e poesias, e viu que se
saía muito bem. “Então, posso dizer que sempre tive a arte inserida de alguma
forma em minha vida”, reconhece. Para Wagner, a arte vem para o acalantar,
ajudar diante das dificuldades. Hoje,
aos 17 anos, ele atua com a literatura e já escreveu dois ebooks, sendo um suspense,
Pandemia: 15 Dias de Quarentena e
outro de poesia, O Sentimento da Palavra,
ambos publicados no site www.wattpad.com. “Me sinto alegre, não
só por expor um trabalho feito por mim, mas também por levar a arte e a cultura
a outras pessoas, transmitindo e absorvendo conhecimento, isso pra mim é muito
realizador”, revelou o jovem artista.
Wagner conquistou o primeiro lugar no campeonato de poesias do Colégio Estadual
Ana Cristina Prazeres Mata Pires em 2015 e no ano de 2019 liderou a
apresentação do trabalho Belezas do
Subúrbio na Universidade Federal da Bahia, mostrando ”o Subúrbio do ponto
de vista do suburbano, falando como a nossa favela é rica em arte, beleza e
cultura e até apresentando alguns pontos turísticos da nossa quebrada".
Sabendo o quanto a arte é importante na vida do escritor e
poeta, perguntamos como ela contribui para o mundo. “Posso dizer que arte
amplia os horizontes e une pessoas, além de proporcionar a transmissão de
história e conhecimento. O melhor da arte é que não há idade para aproveitá-la,
seja do mais novo ao mais idoso, todos podem absorver todo conhecimento e
cultura que a arte traz, por isso a acho extremamente importante para o mundo”.
Essa é uma história de resistência, força e subversão, pois
sabemos que o favelado não tem acesso à história, principalmente sua história,
logo, um jovem suburbano preto ampliando conhecimentos, é inspiração. É revolução!
E aí, a arte é importante, ou não?
Texto: Ana Paula Pinheiro e Davi Bahia
Revisão de texto: Natureza França
Revisão de texto: Natureza França
Vídeo: Wagner Mascarenhas
Edição imagem: Adriano Alves

Comentários
Postar um comentário